26.7.16

Vitória Pais Freire de Andrade e a oposição às touradas


Vitória Pais Freire de Andrade e a oposição às touradas

Tenho lido alguma bibliografia sobre touradas, quer de adeptos, quer de defensores da abolição das mesmas, mas até recentemente não havia encontrado nenhuma publicação escrita por uma mulher.

No texto de hoje, farei uma breve referência a Vitória Pais Freire de Andrade (1883 - 1930), professora, natural de Ponte de Sor, e ao texto da sua autoria “A acção dissolvente das touradas”, que foi apresentado numa conferência proferida, a 29 de março de 1925, na Associação de Classe de Empregados de Escritório e editado por várias entidades, entre as quais a associação mencionada, a Associação de Professores de Portugal, a CGT-Confederação Geral do Trabalho, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, a Universidade Livre e a Universidade Popular.

Vitória Pais Freire de Andrade ao longo da sua vida abraçou várias causas, entre elas a do associativismo dos professores e o feminismo, tendo militado em várias associações, como a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, a Associação de Propaganda Feminista e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Foi, também uma militante no combate à prostituição e liderou o movimento pela abolição das touradas.

A dado passo da sua conferência, Vitória Freire de Andrade, depois de classificar as touradas como “essa vergonhosa tradição que o passado nos legou […], mas que a ciência histórica de hoje nos diz ser, por vezes, bem pouco dignificante como herança moral” manifestou a sua oposição às mesmas já que era “por natureza e por educação” contrária a todas as violências.

Nada suave nas suas palavras, Vitória Freire de Andrade, que considerou as touradas como “a arte dos brutos” defendeu que enquanto aquelas não acabassem se devia pelo menos proibir “que criancinhas ainda inocentes, ainda livre do contágio dos sentimentos grosseiros, se conspurquem em tal ambiente”.
Sobre as chamadas touradas de caridade, a companheira de Alice Moderno na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas disse:

“E àqueles que nos disserem que as touradas são precisas, porque são uma bela fonte de receita para obras de beneficência, dir-lhe-emos simplesmente o seguinte: que infelizmente, ainda transigimos com o facto de se organizarem festas para delas se tirar recursos para os mais necessitados […] mas que ao menos se junte o útil ao agradável. Que essas festas produzam o pão indispensável para o estômago e a não menos indispensável luz para os espíritos. Que nem uma só ideia reservada presida à sua orientação, sob pena de serem imediatamente desmascarados os seus falsos organizadores. Que uma única divisa se admite: fazer o bem pelo bem.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30994, 26 de julho de 2016, p. 16)

18.7.16

468 animais abandonados no Canil Municipal de Ponta Delgada entre janeiro e junho18 JULHO, 2016


468 animais abandonados no Canil Municipal de Ponta Delgada entre janeiro e junho18 JULHO, 2016

Entre janeiro e junho deste ano, foram abandonados 468 animais, no Canil Municipal de Ponta Delgada. A média dá conta de 60 por mês, mas só em junho foram abandonados 71.



Os cães registam um número bastante superior, 335, enquanto os gatos contabilizam 133 abandonos.
Contudo, segundo o médico veterinário daquele canil, regista-se uma ligeira diminuição, em comparação ao ano passado, relativamente aos cães, pois nos gatos esta diminuição está mais acentuada. Virgílio Oliveira afirma que tal situação se deve à iniciativa da Autarquia em oferecer aos munícipes a esterilização de cadelas, sendo que até agora foram esterilizadas mais de 400.
O responsável adianta que, ao contrário de anos anteriores, o maior número de abandonos já não é apenas no período do Verão.
“Os abandonos estão mais distribuídos ao longo do ano. Antigamente assistia-se a um grande diferencial nos meses de Verão, mas agora não. Este ano, em janeiro foram abandonados 50 animais, em fevereiro 60, em março 68, em abril e maio 43 e em junho 71. Há uma diferença, mas já não é tão significativa, pois, em anos anteriores, chegavamos a ter o dobro de animais abandonados nesses meses”, afirma Virgílio Oliveira.
No mesmo período, foram entregues ao canil 555 cães, sendo que a entrega voluntária é muito superior ao abandono, pelo facto de este ser crime. Os motivos das entregas “são basicamente os mesmos, ou seja, cresceu, está grande, há falta de espaço”. De acordo com o responsável, “quando eles são pequenos, toda a gente os adota, depois, à medida que crescem e se tornam adultos, começam os problemas e depois acabam no canil. Às vezes por mudança de casa, mas, muitas das vezes, também, por não preverem o que seria um animal no seu estado adulto”.
Atualmente encontram-se no Canil Municipal de Ponta Delgada mais de 200 animais. De acordo com o médico veterinário, este é um número que continua estável à custa dos abates de cães, embora tenha havido uma diminuição em 30%.
Adianta ainda que estão a ser feitos todos os esforços para ter uma estrutura de abate zero em abril, mas para isso alerta também para a importância das pessoas acautelarem a reprodução dos animais.
Às pessoas que decidem ter um animal, o médico veterinário deixa o apelo “no sentido da responsabilização, isto é, não ir só por um impulso inicial, mas medir as consequências no tempo, sendo que outra questão é controlar a reprodução”.
Quanto à adoção, Virgílio Oliveira diz que ultimamente se tem assistido a um incremento, não por habitantes locais, pois a maioria tem seguido para o estrangeiro e continente.
Fonte: Rádio Atlântida

http://www.radioatlantida.net/468-animais-abandonados-no-canil-municipal-de-ponta-delgada-entre-janeiro-e-junho

12.7.16

Os gatos de Agostinho da Silva



Minha gatinha João
Do jeito que hoje te vi
Muito mais tu me proteges
Do que te protejo a ti
(Agostinho da Silva)

Gosto muito de ler biografias e nos últimos dias acabei de ler a de Agostinho da Silva escrita por António Cândido Franco, professor na Universidade de Évora e atual diretor da revista de cultura libertária “A Ideia”.

Através da leitura de “O estranhíssimo colosso. Uma biografia de Agostinho da Silva”, editada em 2015, pela Quetzal Editores, fiquei a conhecer melhor a vida e a obra de George Agostinho Batista da Silva (1906-1994), filósofo, poeta e ensaísta distinto, que ao longo da sua vida foi um filantropo, tendo, entre outras iniciativas, ajudado, no Brasil, com o dinheiro da sua reforma, meninos pobres que queriam estudar.

Agostinho da Silva manteve uma relação especial com os animais, nomeadamente com os gatos que foram seus companheiros ao longo da sua vida.

Certa vez alguém perguntou a Agostinho da Silva por que razão andava sempre na companhia de gatos e a reposta foi: “Os gatos têm uma enorme vantagem sobre os humanos, sabe? Não podem ser alfabetizados”.

Agostinho da Silva sempre teve gatos, desde a altura em que deu os primeiros passos, em Barca de Alva, até ao fim da vida em Lisboa, passando pelo Brasil e Uruguai, onde também viveu.

Agostinho da Silva que, numa altura da sua vida, se deslocava de Lisboa a Sesimbra com o único objetivo de alimentar gatos, com quase 88 anos de idade levantava-se às cinco da madrugada e dedicava aos gatos as duas primeiras horas do dia, limpando as areias, lavando a louça e dando-lhes alimento e mino e passeando no terraço.

Sobre a sua dedicação aos gatos que lhe davam muito trabalho, Agostinho da Silva nunca desanimou nem manifestou qualquer cansaço. Sobre o assunto escreveu: “Estou pagando uma dívida humana: meus gatos me domesticaram a mim”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30982, 12 de julho de 2016, p.10)

5.7.16

AVAT- Associação de Veterinários Abolicionistas da Tauromaquia



AVAT- Associação de Veterinários Abolicionistas da Tauromaquia

Depois de Espanha e de França, Portugal passou a ter, desde o passado dia 30 de junho, uma associação profissional de médicos veterinários que se opõem aos maus tratos a animais, que incompreensivelmente ainda são legais, embora num reduzido número de países, na tauromaquia.

Não conhecemos muitas reações sobre o surgimento da nova associação, mas o mesmo mereceu aplausos por parte da maioria das associações que combatem a tauromaquia em Portugal, de muitas associações de defesa dos animais e por parte do PAN- Pessoas Animais e Natureza.

O deputado André Silva, do PAN, que esteve presente na sessão de apresentação, depois de mencionar que “o utilitarismo fútil” que está presente nas touradas “é cada vez menos admitido pela maioria dos portugueses que não se revêm num "entretenimento" que se suporta em gravíssimos maus tratos, entendidos pelo legislador como justificados”, desejou que a AVAT “tenha uma curta existência, que se possa extinguir rapidamente por via do alcance dos seus objectivos”..

A AVATMA - Asociación de Veterinarios Abolicionistas de la Tauromaquia y del Maltrato Animal, de Espanha, esteve presente através do seu presidente, José Enrique Zaldívar, que foi homenageado e recebeu o título de sócio honorário, saudou o aparecimento da nova associação nos seguintes termos: “Estamos muito satisfeitos por compartilhar com os veterinários portugueses e franceses os argumentos científicos que são indispensáveis no inexorável caminho que levará ao desaparecimento de todos os espetáculos taurinos.”

De acordo com informação já disponibilizada pela AVAT, a mesma tem por objetivo o reconhecimento, a defesa e a proteção dos animais envolvidos nas atividades tauromáquicas já que os mesmos “são seres sencientes dotados de direitos, interesses e necessidades inerentes à sua condição”.

Para a prossecução dos seus objetivos a “AVAT propõe-se promover e defender os direitos destes animais, nomeadamente, o direito a uma existência digna e livre de maus-tratos ou sofrimento gratuito, desnecessário e injustificado, mediante a abolição dos referidos espetáculos e eventos tauromáquicos”, bem como promover “igualmente a defesa e proteção dos direitos e interesses legalmente protegidos dos menores de idade e do ambiente, sempre que estejam relacionados com os demais objectivos da mesma.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30976, 5 de julho de 2016, p. 16)